Poema Filho Ingrato - Ao Vivo

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Lyrics

Certa vez estive viajando por esse Brasil afora
 Quando me vi no sertão
 Numa estrada de chão, era tarde, umas três horas
 De repente, meu carro quebrado
 Fechei os vidros, deixei ali encostado
 E ajuda eu fui procurar
 Quando eu vi uma casa ali perto
 O lugar era deserto
 Pelo trilho comecei a andar
 Fui chegando devagarinho
 E quando vi estava pertinho
 Por ajuda fui gritando
 A casa parecia abandonada
 A porta não estava trancada
 Eu abri, fui entrando
 Na entrada logo vi que alguém morava ali
 Pois tinha uma cama velha
 Duas panelas na prateleira
 Num canto, um banco encostado
 O fogão de lenha do lado
 E a moringa era geladeira
 De repente ouvi um gemido
 Entrei e vi um velho caído
 Que me disse com a voz estremecida
 Meu filho, sente aqui do meu lado
 Só ouça, fique calado
 A história da minha vida...
 Eu era um rapaz faceiro
 Era o rei dos boiadeiros
 Tinha vida pra dar e vender
 Na viola eu era um açoite
 Trabalhava dia e noite
 Só não sabia ler e escrever
 Me apaixonei por uma moça chamada Tereza
 E no dia do nosso casamento
 Dançamos até noite adentro
 E eu fazia meus planos
 Vou construir nossa casinha
 Criar gado, criar galinha
 Nem que demorasse muitos anos
 Mas aí veio a tristeza
 A minha querida Tereza
 O filho não pôde suportar
 Foi sentindo a dor do parto
 E ai nesse mesmo quarto
 Ela partiu e com Deus foi morar
 Fiquei eu e o menino
 Tracei ali o seu destino e jurei a ele estudo dar
 Nem que eu tivesse o sacrifício
 Se fosse pro seu benefício
 Até sangue eu ia derramar
 Mas quem tem Deus não se apura
 Mesmo levando uma vida dura
 Eu não podia me queixar
 Eu era muito valente
 O menino inteligente
 Arroz e feijão nunca ia faltar
 Me lembro como se fosse agora
 Ele chegando da escola
 No ultimo dia do ano
 E com sua simplicidade me disse
 Pai, eu quero entrar na faculdade
 Pois é esse meu plano
 E se foi para a cidade grande
 Me deixando aqui tão longe
 Para vencer no seu futuro
 Eu fazia economia, trabalhava noite e dia
 Para manter o seu estudo
 Se passaram quatro anos
 E eu na roça lutando
 Numa vida muito dura
 Mas ao céu eu agradeci
 Pela graça que recebi
 Pois chegou o dia da sua formatura
 Vesti meu terno de estopa
 Eu não tinha outra roupa
 No meu pé, meu velho sapatão
 Com as unhas sujas de terra
 Pulei vale, cruzei serras
 Pra ver meu filho receber a sua formação
 Fui chegando na cidade
 E com a minha simplicidade
 No salão eu fui entrando
 Quando vi meu filho do lado
 Tava bonito, tava arrumado
 E pro seu lado fui andando
 Eu fui com os braços abertos
 Mas na hora ele saiu de perto
 Com uma cara risonha
 Criticou minha roupa velha
 As unhas sujas de terra
 Falou que de mim estava com vergonha
 Foi embora e me deixou ali num canto
 Dos meus olhos escorreu pranto
 E no meu peito uma grande dor
 Pois ali me desprezava
 Quem eu tanto ajudava
 Do fundo do meu amor
 Fui saindo do salão
 Cruzei aquela multidão
 Com o peito cheio de tormento
 Então voltei pra essa casinha
 Pra tocar minha vidinha
 E esquecer meu sofrimento
 Hoje, hoje estou velho, eu sei
 De tanto que trabalhei
 Da minha dor que mais parece uma ferida
 O meu filho eu não vi nunca mais
 Hoje deve ser doutor ou senhor dos tais
 E eu aqui, no fim da minha vida
 Mas vá, parte agora
 E se um dia encontrar meu filho
 Por essa estrada afora
 Diga à ele que aquele terno de estopa
 Que eu usei no dia da sua formatura
 É o mesmo terno que usei
 No dia que me casei
 Com aquela que morreu para lhe dar a vida
 E é com ele que eu vou para sepultura
 Diga também que foi com aquele velho sapatão
 Que eu trabalhei e tirei desse chão
 O sustento do seu futuro
 E as unhas sujas de terra
 Representa o anel de formatura
 De quem nunca teve estudo
 E por fim, diga a ele que eu lhe perdôo
 Que por Deus eu lhe abençôo
 E não reclamo a minha cruz
 Foi tão grande meu sofrimento
 Mas não se compara em nenhum momento
 Ao sofrimento de Jesus
 

Audio Features

Song Details

Duration
05:44
Key
5
Tempo
168 BPM

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