Homem na Estrada

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Lyrics

Um homem na estrada recomeça sua vida
 Sua finalidade, a sua liberdade
 Que foi perdida, subtraída
 E quer provar à si mesmo que realmente mudou
 Que se recuperou e quer viver em paz
 Não olhar para trás, dizer ao crime: Nunca mais
 Pois sua infância não foi um mar de rosas, não
 Na FEBEM, lembranças dolorosas, então
 Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim
 Muitos morreram sim, sonhando alto assim
 Me digam: Quem é feliz? Quem não se desespera
 Vendo nascer seu filho no berço da miséria?
 Um lugar onde só tinham como atração
 O bar e o candomblé pra se tomar a bênção
 Esse é o palco da história que por mim será contada
 Um homem na estrada
 ♪
 Equilibrado num barranco um cômodo mal acabado e sujo
 Porém seu único lar, seu bem e seu refúgio
 Um cheiro horrível de esgoto no quintal
 Por cima ou por baixo, se chover será fatal
 Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou
 Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou
 Numerou os barracos, fez uma pá de perguntas
 Logo depois esqueceram, filha da puta
 Acharam uma mina morta e estuprada
 Deviam estar com muita raiva, mano, quanta paulada
 Estava irreconhecível, o rosto desfigurado
 Deu meia noite e o corpo ainda estava lá
 Coberto com lençol, ressecado pelo Sol, jogado
 O IML estava só dez horas atrasado
 Sim, ganhar dinheiro, ficar rico, enfim
 Quero que meu filho nem se lembre daqui
 Tenha uma vida segura, não quero que ele cresça
 Com um oitão na cintura e uma PT na cabeça
 O resto da madrugada sem dormir
 Ele pensa o que fazer para sair dessa situação
 Desempregado então, com má reputação
 Viveu na detenção, ninguém confia não
 E a vida desse homem para sempre foi danificada
 Um homem na estrada
 ♪
 Um homem na estrada
 ♪
 Amanhece mais um dia e tudo é exatamente igual
 Calor insuportável, 28 graus
 Faltou água, já é rotina, monotonia
 Não tem prazo pra voltar, já fazem cinco dias
 São dez horas, a rua está agitada
 Uma ambulância foi chamada com extrema urgência
 Loucura, violência exagerada
 Estourou a própria mãe, estava embriagado
 Mas bem antes da ressaca ele foi julgado
 Arrastado pela rua o pobre do elemento
 O inevitável linchamento, imaginem só
 Ele ficou bem feio, não tiveram dó
 Os ricos fazem campanha contra as drogas
 E falam sobre o poder destrutivo delas
 Por outro lado promovem e ganham muito dinheiro
 Com o álcool que é vendido na favela
 Empapuçado ele sai, vai dar um rolê
 Não acredita no que vê, não daquela maneira
 Crianças, gatos, cachorros disputam palmo a palmo
 Seu café da manhã na lateral da feira
 Molecada sem futuro, eu já consigo ver
 Só vão na escola pra comer, apenas, nada mais
 Como é que vão aprender sem incentivo de alguém?
 Sem orgulho e sem respeito, sem saúde e sem paz
 Um mano meu tava ganhando um dinheiro
 Tinha comprado um carro, até Rolex tinha
 Foi fuzilado a queima roupa no colégio
 Abastecendo a playboyzada de farinha
 Ficou famoso, virou notícia, rendeu dinheiro
 Aos jornais, cartaz, à policia
 Vinte anos de idade, alcançou os primeiros lugares
 Superstar do notícias populares
 Uma semana depois chegou o crack
 Gente rica por trás, diretoria
 Aqui, periferia, miséria de sobra
 Um salário por dia garante a mão-de-obra
 A clientela tem grana e compra bem
 Tudo em casa, costa quente de sócio
 A playboyzada muito louca até os ossos
 Vender droga por aqui, grande negócio
 Sim, ganhar dinheiro ficar rico, enfim
 Quero um futuro melhor, não quero morrer assim
 Num necrotério qualquer, como indigente
 Sem nome e sem nada, o homem na estrada
 ♪
 Assaltos na redondeza levantaram suspeitas
 Logo acusaram a favela para variar
 E o boato que corre é que esse homem está
 Com o seu nome lá na lista dos suspeitos
 Pregada na parede do bar
 A noite chega e o clima estranho no ar
 E ele sem desconfiar de nada, vai dormir tranquilamente
 Mas na calada caguetaram seus antecedentes
 Como se fosse uma doença incurável
 No seu braço a tatuagem, deve ser uma passagem, 157 na lei
 No seu lado não tem mais ninguém
 A justiça criminal é implacável
 Tiram sua liberdade, família e moral
 Mesmo longe do sistema carcerário
 Te chamarão pra sempre de ex-presidiário
 Não confio na polícia, raça do caralho
 Se eles me acham baleado na calçada
 Chutam minha cara e cospem em mim, é
 Eu sangraria até a morte, já era, um abraço
 Por isso a minha segurança eu mesmo faço
 É madrugada, parece estar tudo normal
 Mas esse homem desperta, pressentindo o mal
 Muito cachorro latindo
 Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal
 A vizinhança está calada e insegura
 Premeditando o final que já conhecem bem
 Na madrugada da favela não existem leis
 Talvez a lei do silêncio, a lei do cão, talvez
 Vão invadir o seu barraco, é a polícia
 Vieram pra arregaçar, cheios de ódio e malícia
 Filhos da puta, comedores de carniça
 Já deram minha sentença e eu nem tava na treta
 Não são poucos e já vieram muito loucos
 Matar na crocodilagem, não vão perder viagem
 Quinze caras lá fora, diversos calibres
 E eu apenas com uma treze tiros automática
 Sou eu mesmo e eu, meu Deus e meu orixá
 No primeiro barulho eu vou atirar
 Se eles me pegam, meu filho fica sem ninguém
 O que eles querem, mais um pretinho na FEBEM
 Sim, ganhar dinheiro ficar rico, enfim
 A gente sonha a vida inteira e só acorda no fim
 Minha verdade foi outra, não dá mais tempo pra nada
 ♪
 Homem mulato aparentando entre vinte e cinco e trinta anos
 É encontrado morto na estrada do M'Boi Mirim sem número
 Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais
 Segundo a polícia, a vítima tinha vasta ficha criminal
 

Audio Features

Song Details

Duration
08:41
Key
7
Tempo
155 BPM

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